terça-feira, 10 de setembro de 2019

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Um último poema para epitáfio

Oh Esteves
Uma andorinha pousou na minha sorte
No meio do caminho tinha um beco
Eu não conheço ninguém em Pasárgada
O trem das onze não passa em Jaçanã
Lídia não me coroou de rosas
Não sei por quem dobram os sinos
Buscar o tempo perdido me dá náusea
Sou estrangeiro dentro do meu peito
Desde a primeira vez que vi Tereza
Então vou dançar numa festa sem fim
E se os sapatos pedirem para eu parar
Vou dizer que estou a um passo do pássaro
Foda-se a vida e quem lá ande!!!!


[assis freitas]

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Antipoema sobre arroubo ficcional


Como tu bem sabes,
antes eu era o menino que não crescia.
Mas já tive acessos de árvore e arroubos de asa.
Assim que te vi contraí uma febre de sílabas.
Desde então comungo este sussurro de língua.

[assis freitas]


terça-feira, 31 de maio de 2016

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

terça-feira, 31 de março de 2015

1001 + 91 - Uma elegia para rios de margens barrentas

I

eu teria começado em silêncio a meditação.
mas tu sabes que não há lugar no mundo
em que o ruído já não esteja instalado.
sofro de negativas intermitentes.
esse diagnóstico veio junto com a afasia,
caracterizada por longos circunlóquios 
e pelo uso excessivo de referências indefinidas
como "coisa" ou "aquilo".
são recorrentes: a síndrome de ménière e a
inflamação da escápula em dias frios.
de outra maneira circunda-me a ânsia
do desmedido, do inopinado, ainda que
tudo medre no circunspecto.

II

aos doze anos li todos os livros de hesse,
aos dezoito assisti vorazmente os filmes
de bunuel, aos trinta desisti de tudo
inclusive de mim, acho que por influência
do pássaro de bukowski.
assim, destituído de propósitos, só me
restou a literatura. não a grande literatura,
a alta literatura, mas essa coisa mesquinha
de escrever sobre vazios, rasgos,
solidão, angústias e ausências.
Ao mesmo tempo, os olhos cativam distâncias
E o peito soletra segredos.
Alguma coisa se bifurca entre os passos,
Quase sempre a respiração pede pausa
Os desaparecidos me fitam sem sobressalto
Tenho roupas para dias santos e feriados
Mas não comungo o uso de sapatos.

III

Em algum outro ponto da estrada sei que estás
E sei que as correntes amordaçam a língua
As flores ensandecem a primavera, zunem
Prefiro estações inconsequentes
Como aquela em que nos vimos em sorriso
Tu fumavas distraída, o vento insistia
E eu fui atraído pelo cheiro que emanavas
Entre goles, tragos e preciosos silêncios
Fomos nus descobrindo a pele e a amplidão
Havia infância em nossos destinos
Eu te sonhava em futuro de linguagem
Até exaurir as possibilidades de infinito

IV

Sofrer com as aliterações e pronominais
Alterar o curso de um verbo, desconjugar
Sim, o coração é este poço inconsequente
Adornam-me palavra e pele na fruição
da linguagem, vivo em situação de visgo
dos teus olhos me percorrem vertigens.

sexta-feira, 27 de março de 2015

1001 + 90 - Ária de silêncio para cinzas na atmosfera

Nada me conte sobre os anseios da noite
Da paisagem enfeitada de estrelas
Nem do sublime rumor do orvalho
Nada que incite alumbramentos

Hoje me acerca a ceia indefinida
Dos olhares esquálidos
Da falência da vida
Do barulho insistente dos insanos

Nada de quimeras nesta manhã de incêndio
Poderia estar em Madagascar ou Nairobi
A bordo de uma locomotiva ou avião
Mas em nenhum lugar estaria em liberdade

[Meu peito peja em ambiguidades]


terça-feira, 17 de março de 2015

1001 + 89 - a inevitável sagração do silêncio

o vento quente
algumas palavras no cais
a memória feito insônia
a atormentar as retinas
e eu tão sozinho
que nem o silêncio
podia me abraçar

segunda-feira, 16 de março de 2015

1001 + 88 - A ostra e a teoria do silêncio

As estrelas nascem do caos
A epifania do silêncio
O amor nasce do espanto
O poema nasce feito passarinho
Atordoado para voar

sábado, 28 de fevereiro de 2015

1001 + 87 - ária para adejar o poema na página

se eu fosse ao mar seria simples
bastaria o naufrágio
mas perscruto estrelas
quiçá sirius, arcturus, betelgeuse
emanações instáveis do poente helíaco
o sacrifício de incenso e vinho
a cadência do céu noturno
cercado de raios
traçando cursos e destinos
e seis pastoras vermelhas
me devorando asas e costelas

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

1001 + 86 - Um fado para qualquer lonjura

Quis eu por mares desconhecidos
Elevar uma prece desmedida
Para que navegar não fosse caos
Quis eu o intento não me quis as naus

E assim em terras pouso o brasão
Semeio quimeras por todo chão
Vislumbro de soslaio os ares dela
Quis eu o intento não me quis a donzela

Mas se do espaço me olho almejo voo
Vago o céu infinito entre as estrelas
Vou tecendo o desalinho desta contenda
Quis eu o intento não me quis a oferenda


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015