quinta-feira, 18 de agosto de 2011

679 - poema para ruir os últimos moinhos de vento (metaplagio em cascata para solista e coral)

a noite fez ruir teus cílios, minhas sobrancelhas
a noite fez ruir teus cactos, minhas madrepérolas
a noite fez ruir teus insetos, minhas mariposas
a noite fez ruir teus pastores, minhas alcateias
a noite fez ruir teus quandos, minhas incertezas
a noite fez ruir teus quadros, minhas molduras
a noite fez ruir teus mapas, minhas geografias
a noite fez ruir teus idílios, minhas fantasias
a noite fez ruir teus sinais, minhas idolatrias
a noite fez ruir teu alfabeto, minha idiossincrasia

a noite fez ruir o silêncio, o girassol, o moinho de vento,
a atônita sinfonia, os florais de bach, a orelha de van gogh,
o adagio de mahler, o quinto, o sexto e o sétimo selo,
toda a cavalaria e meus alamares

a noite fez ruir minha repetição, a medíocre poesia,
o último trago do cigarro, aquela cena de cinema,
binoche, deneuve, delon,
o salvador, a memória e as insígnias do tempo,
a pasárgada, o bandeira, a sentinela,
o vizinho, o cravo nos dentes,
o inútil bem querer que insisto em outorgar

20 comentários:

Jorge Pimenta disse...

mágico, encantatório, quase hipnótico. como a noite que anuncia espantar demónios, acababndo por instala-los, cinicamente, no peito.
que caiam todos os moinhos, mas não o vento;
que a noite arruine, mas as alvoradas reergam.

um abraço!

Unknown disse...

ASSIS!

Uma só noite e todos os sonhos ao chão.

Uma cascata triste demais, e bela em demasiado..


Beijo

Mirze

Penélope disse...

Pois lembrei-me das mil e uma noites.
Sherazade contava histórias ao seu rei como verdadeiros poemas.
Estes que encontrei aqui são belos!!
Abraços

Everson Russo disse...

Na noite se fazem ruir todos os sentimentos obscuros...abraços de bom dia.

Anônimo disse...

olá.
adorei seu blog
é muito legal
estou te seguindo
aparece pelo meu, e me segue.. se quiser
bj

http://rgqueen.blogspot.com/

Batom e poesias disse...

Ritmo e beleza nos versos a despeito da noite ruim.

Que o dia seja bom, Assis!

bjs
Rossana

Anônimo disse...

Das ruínas da noite à edificação de seus lindos versos.

Beijo.

nina rizzi disse...

belo-belo. diz tudos quanto queros.

Vais disse...

Ei, Assis,
bem dito de bem querer
beijos

Joelma B. disse...

Beijinho com admiração, poeta Assis!

M.C.L.M disse...

"O vizinho, o cravo nos dentes,
o inútil bem querer que insisto em outorgar..."

Poesia de Maestro!!

bj.

*Deixei um desafio pra ti lá no Poetar, olha lá...

Anônimo disse...

lindo! :)

Tania regina Contreiras disse...

Mântrico e belo, belo, Assis!
Beijos,

Tuca Zamagna disse...

E eu aqui, arruinado por tabela, aguardo a noite seguinte, que me reerguerá. Ou me cobrirá, com campa enluarada.

Abraço

Rejane Martins disse...

Como Dom Quixote, pisar onde os bravos não ousam, o teu repouso é a batalha.

dade amorim disse...

Um coral grandioso, o que se escuta a partir deste poema. Um mantra em cascata pela noite adentro.

Luiza Maciel Nogueira disse...

Adoro tuas imagens, parecem saltar dos olhos para outros cantos. Beijo

Ingrid disse...

sem palavras querido..
que linda noite tens no peito..
beijos sempre..

Andrea de Godoy Neto disse...

Assis, este poema é mesmo mágico!
A noite se impõe sobre todos os sonhos, sobre os desejos que não alcançamos. Mas é o dia que nos surpreende a traçar novos caminhos sobre as ruínas dos nossos moinhos.

beijoo

lula eurico disse...

Essa enumeração imensamente poética outorga cosmo ao caos... e põe em órbita tua semiótica translação interior.
Contemplo o poema como quem procura estrelas novas, numa noite densa.

Abç fraterno.
Grato pelas felicitações.