terça-feira, 28 de maio de 2013

1001 + 70 - porque o coração queria ser Piva e Orides II

Quando o pássaro acordou
Não havia canto nem voo
No céu a nuvem distraída
Desdenhava as suas asas

sexta-feira, 24 de maio de 2013

1001 + 69 - por ti cometeria os pecados mais singulares II


eu vou ficar esperando pelo cigarro
pela última estrela
pelo latido aflito dos cães
pelos poemas que não foram escritos
pela caligrafia rasgada de nomes
eu vou ficar esperando
por um nada, um vazio, um caos
até o peito explodir como uma galáxia

sexta-feira, 17 de maio de 2013

1001 + 68 - Canção para véspera do branco e das mãos


No dia que cheguei de tantos caminhos
Teu corpo era um porto de alvíssaras
Nós que muito já nos havíamos
Tu me trazias o espelho de várias sílabas
Eu me tinha em avessos de estrelas
Nos nossos passos pousaram pássaros
E nos despimos na interrogação dos dias
Feito sonho cravado na pupila do outono

segunda-feira, 13 de maio de 2013

1001 + 67 - Ária de sagração para pedra, flor e água


Não guardo nenhuma intempérie
Nem mesmo raios que ora me habitam
Atravessam a silhueta deste ubíquo olhar
Nada me alcança em tormenta

Venho desde muito longe
Até o mar submergir as palavras
Como uma pedra desnuda
E uma flor sem mágoa

quarta-feira, 8 de maio de 2013

1001 + 66 - Metaplagio cabralino para orgia de astros


um cão sozinho não tece a madrugada
ele precisará na rua de outros cães
que junto com ele elevem o uivo à lua
numa teia inconsútil de lágrima e solidão

sábado, 4 de maio de 2013

1001 + 65 - Metaplagio líquido para tempestade e ventania


(à guisa de um diálogo com Wilson Caritta Lopes)


Guardei nuvens em teus ninhos
Agora me vens em tempestades
Fulguras assim em cisma e raios
Fria lágrima cristalina sem idade

Tão nu sou tu nesta silhueta rude
Inverso de um outro que se abre
Do que sinto com a veste infinda
Semente de céu deveras anunciada

Assis Freitas


*O cara da tempestade*

Guardei sua chuva nos meus ninhos,
desde então, pressinto tempestades,
livro-me de toda roupa, logo que sinto
as primeiras ventanias encharcadas.

Eu me visto com seu corpo,
e mesmo de olhos fechados
defino a silhueta dos seus ombros
sob raios e cismas da pior seca

Surja pelas sombras negras
deixe que as lágrimas vertidas
pelo céu transformem-sêmen...

Pode inundar a terra trazendo vida
este amor com cara de alma lavada
levando nossa semente apaixonada.

Wilson Caritta